TEORIAS EPISTEMOLÓGICAS DE JEAN PIAGET
Desde
que se interessou por desvendar o desenvolvimento da inteligência
humana, Piaget trabalhou exaustivamente em seu objetivo, até às vésperas
de sua morte, em 1980, aos oitenta e quatro anos, deixando escrito
aproximadamente setenta livros e mais de quatrocentos artigos.
Repassamos aqui algumas ideias centrais de sua teoria.A INTELIGÊNCIA PARA PIAGET
É o mecanismo de adaptação do organismo a uma situação nova e, como tal,
implica a construção contínua de novas estruturas. Esta adaptação
refere-se ao mundo exterior, como toda adaptação biológica. Desta forma,
os indivíduos se desenvolvem intelectualmente a partir de exercícios e
estímulos oferecidos pelo meio que os cercam. O que vale também dizer
que a inteligência humana pode ser exercitada, buscando um
aperfeiçoamento de potencialidades, que evolui “desde o nível mais primitivo da existência, caracterizado por trocas bioquímicas até o nível das trocas simbólicas” (Ramozzi-Chiarottino apud Chiabai: 1990: 3).
Para Piaget o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado
de condicionamentos. Para ele o comportamento é construído numa
interação entre o meio e o indivíduo. Esta teoria epistemológica (epistemo = conhecimento; e logia =
estudo) é caracterizada como interacionista. A inteligência do
indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto, está relacionada
com a complexidade desta interação do indivíduo com o meio. Em outras
palavras, quanto mais complexa for esta interação, mais “inteligente”
será o indivíduo. As teorias piagetianas abrem campo de estudo não
somente para a psicologia do desenvolvimento, mas também para outras
áreas como; a sociologia e a antropologia, além de permitir que os
pedagogos tracem uma metodologia de práticas baseada em suas
descobertas.
“Não existe estrutura sem gênese, nem gênese sem estrutura” (Piaget).
Para Piaget a estrutura de maturação do indivíduo sofre um processo
genético e a gênese depende de uma estrutura de maturação. Sua teoria
nos mostra que o indivíduo só recebe um determinado conhecimento se
estiver preparado para recebê-lo. Ou seja, se puder agir sobre o objeto
de conhecimento para inseri-lo num sistema de relações. Não existe um
novo conhecimento sem que o organismo tenha já um conhecimento anterior
para poder assimilá-lo e transformá-lo.
Isto implica a interação dos dois polos da atividade inteligente:
assimilação e acomodação. É assimilação na medida em que incorpora a
seus quadros todo o dado da experiência ou estruturação por incorporação
da realidade exterior a formas devidas à atividade do sujeito (Piaget,
1982). É acomodação na medida em que a estrutura se modifica em função
do meio, de suas variações. A adaptação intelectual constitui-se então
em um “equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e uma acomodação complementar”
(Piaget, 1982). Piaget situa, segundo Dolle, o problema epistemológico,
o do conhecimento, ao nível de uma interação entre o sujeito e o
objeto. E “essa
dialética resolve todos os conflitos nascidos das teorias,
associacionistas, empiristas, genéticas sem estrutura, estruturalistas
sem gênese, etc. … e permite seguir fases sucessivas da construção
progressiva do conhecimento” (1974: 52).
O desenvolvimento do indivíduo inicia-se no período intrauterino e vai
até aos 15 ou 16 anos. Piaget diz que a embriologia humana evolui também
após o nascimento, criando estruturas cada vez mais complexas. A
construção da inteligência dá-se, portanto em etapas sucessivas, com
complexidades crescentes, encadeadas umas às outras. A isto Piaget
chamou de “construtivismo sequencial”.
A seguir os períodos em que se dá este desenvolvimento motor, verbal e mental.
PERÍODO SENSÓRIO-MOTOR
Do nascimento aos 2 anos, aproximadamente.
A ausência da função semiótica é a principal característica deste
período. A inteligência trabalha através das percepções (simbólico) e
das ações (motor) _através dos deslocamentos do próprio corpo. É uma
inteligência iminentemente prática. Sua linguagem vai da ecolalia
(repetição de sílabas) à palavra-frase (“água” para dizer que quer beber
água) já que não representa mentalmente o objeto e as ações. Sua
conduta social, neste período, é de isolamento e indiferenciação (o
mundo é ele).
PERÍODO SIMBÓLICO
Dos 2 anos aos 4 anos, aproximadamente.
Neste período surge a função semiótica que permite o surgimento da
linguagem, do desenho, da imitação, da dramatização, etc.. Podendo criar
imagens mentais na ausência do objeto ou da ação é o período da
fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico. Com a capacidade de formar
imagens mentais pode transformar o objeto numa satisfação de seu prazer
(uma caixa de fósforo em carrinho, por exemplo). É também o período em
que o indivíduo “dá alma” (animismo) aos objetos (“o carro do papai foi ‘dormir’ na garagem“).
A linguagem está a nível de monólogo coletivo, ou seja, todos falam ao
mesmo tempo sem que respondam as argumentações dos outros. Duas crianças
“conversando” dizem frases que não têm relação com a frase que o outro
está dizendo. Sua socialização é vivida de forma isolada, mas dentro do
coletivo. Não há liderança e os pares são constantemente trocados.
Existem outras características do pensamento simbólico que não estão sendo mencionadas aqui, uma vez que a proposta é de sintetizar as idéias de Jean Piaget, como por exemplo o nominalismo (dar nomes às coisas das quais não sabe o nome ainda), superdeterminação (“teimosia”), egocentrismo (tudo é “meu”), etc.
Existem outras características do pensamento simbólico que não estão sendo mencionadas aqui, uma vez que a proposta é de sintetizar as idéias de Jean Piaget, como por exemplo o nominalismo (dar nomes às coisas das quais não sabe o nome ainda), superdeterminação (“teimosia”), egocentrismo (tudo é “meu”), etc.
PERÍODO INTUITIVO
Dos 4 anos aos 7 anos, aproximadamente.
Neste período já existe um desejo de explicação dos fenômenos. É a “idade dos porquês”,
pois o individuo pergunta o tempo todo. Distingue a fantasia do real,
podendo dramatizar a fantasia sem que acredite nela. Seu pensamento
continua centrado no seu próprio ponto de vista. Já é capaz de organizar
coleções e conjuntos sem, no entanto incluir conjuntos menores em
conjuntos maiores (rosas no conjunto de flores, por exemplo). Quanto à
linguagem não mantém uma conversação longa, mas já é capaz de adaptar
sua resposta às palavras do companheiro.
Os Períodos Simbólico e Intuitivo são também comumente apresentados como Período Pré-Operatório.
PERÍODO OPERATÓRIO CONCRETO
Dos 7 anos aos 11 anos, aproximadamente.
É o período em que o indivíduo consolida as conservações de número,
substância, volume e peso. Já é capaz de ordenar elementos por seu
tamanho (grandeza), incluindo conjuntos, organizando então o mundo de
forma lógica ou operatória. Sua organização social é a de bando, podendo
participar de grupos maiores, chefiando e admitindo a chefia. Já podem
compreender regras, sendo fiéis a ela, e estabelecer compromissos. A
conversação torna-se possível (já é uma linguagem socializada), sem que,
no entanto possam discutir diferentes pontos de vista para que cheguem a
uma conclusão comum.
PERÍODO OPERATÓRIO ABSTRATO
Dos 11 anos em diante.
É o ápice do desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de
pensamento hipotético-dedutivo ou lógico-matemático. É quando o
indivíduo está apto para calcular uma probabilidade, libertando-se do
concreto em proveito de interesses orientados para o futuro. É,
finalmente, a “abertura para todos os possíveis”.
A partir desta estrutura de pensamento é possível a dialética, que
permite que a linguagem se dê em nível de discussão para se chegar a uma
conclusão. Sua organização grupal pode estabelecer relações de
cooperação e reciprocidade.
A importância de se definir os períodos de desenvolvimento da
inteligência reside no fato de que, em cada um, o indivíduo adquire
novos conhecimentos ou estratégias de sobrevivência, de compreensão e
interpretação da realidade. A compreensão deste processo é fundamental
para que os professores possam também compreender com quem estão
trabalhando.
A obra de Jean Piaget não oferece aos educadores uma didática específica
sobre como desenvolver a inteligência do aluno ou da criança. Ele nos
mostra que cada fase de desenvolvimento apresenta características e
possibilidades de crescimento da maturação ou de aquisições. O
conhecimento destas possibilidades faz com que os professores possam
oferecer estímulos adequados a um maior desenvolvimento do indivíduo.
“Aceitar
o ponto de vista de Piaget, portanto, provocará turbulenta revolução no
processo escolar (o professor transforma-se numa espécia de ‘técnico do time de futebol’,
perdendo seu ar de ator no palco). (…) Quem quiser segui-lo tem de
modificar, fundamentalmente, comportamentos consagrados, milenarmente
(aliás, é assim que age a ciência e a pedagogia começa a tornar-se uma
arte apoiada, estritamente, nas ciências biológicas, psicológicas e
sociológicas). Onde houver um professor ‘ensinando’… aí não está havendo uma escola piagetiana!” (Lima, 1980: 131).
O lema “o professor não ensina, ajuda o aluno a aprender”,
do Método Psicogenético, criado por Lauro de Oliveira Lima, tem suas
bases nestas teorias epistemológicas de Jean Piaget. Existem outras
escolas, espalhadas pelo Brasil, que também procuram criar metodologias
específicas embasadas nas teorias de Piaget. Estas iniciativas passam
tanto pelo campo do ensino particular como pelo público. Alguns governos
municipais, inclusive, já tentam adotá-las como preceito
político-legal.
Todavia, ainda se desconhece as teorias de Piaget no Brasil. Pode-se
afirmar que ainda é limitado o número daqueles que buscam conhecer
melhor a Epistemologia Genética e tentam aplicá-la na sua vida
profissional, na sua prática pedagógica. Nem mesmo as Faculdades de
Educação, de uma forma geral, preocupam-se em aprofundar estudo nestas
teorias. Quando muito oferecem os períodos de desenvolvimento, sem
permitir um maior entendimento por parte dos alunos.
Artigo escrito por “Professor Marcos L Souza" – Pedagogo – Psicopedagogo – Educador musical – Historiador.
Artigo escrito por “Professor Marcos L Souza" – Pedagogo – Psicopedagogo – Educador musical – Historiador.
Referências Bibliográficas:
CHIABAI, Isa Maria. A influência do meio rural no processo de cognição de crianças da pré-escola: uma
interpretação fundamentada na teoria do conhecimento de Jean Piaget.
São Paulo, 1990. Tese (Doutorado), Instituto de Psicologia, USP. 165 p.
LIMA, Lauro de Oliveira. Piaget para principiantes. 2. ed. São Paulo: Summus, 1980. 284 p.
PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. 389 p.
TEORIAS EPISTEMOLÓGICAS DE JEAN PIAGET
Desde
que se interessou por desvendar o desenvolvimento da inteligência
humana, Piaget trabalhou exaustivamente em seu objetivo, até às vésperas
de sua morte, em 1980, aos oitenta e quatro anos, deixando escrito
aproximadamente setenta livros e mais de quatrocentos artigos.
Repassamos aqui algumas ideias centrais de sua teoria.A INTELIGÊNCIA PARA PIAGET
É o mecanismo de adaptação do organismo a uma situação nova e, como tal,
implica a construção contínua de novas estruturas. Esta adaptação
refere-se ao mundo exterior, como toda adaptação biológica. Desta forma,
os indivíduos se desenvolvem intelectualmente a partir de exercícios e
estímulos oferecidos pelo meio que os cercam. O que vale também dizer
que a inteligência humana pode ser exercitada, buscando um
aperfeiçoamento de potencialidades, que evolui “desde o nível mais primitivo da existência, caracterizado por trocas bioquímicas até o nível das trocas simbólicas” (Ramozzi-Chiarottino apud Chiabai: 1990: 3).
Para Piaget o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado
de condicionamentos. Para ele o comportamento é construído numa
interação entre o meio e o indivíduo. Esta teoria epistemológica (epistemo = conhecimento; e logia =
estudo) é caracterizada como interacionista. A inteligência do
indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto, está relacionada
com a complexidade desta interação do indivíduo com o meio. Em outras
palavras, quanto mais complexa for esta interação, mais “inteligente”
será o indivíduo. As teorias piagetianas abrem campo de estudo não
somente para a psicologia do desenvolvimento, mas também para outras
áreas como; a sociologia e a antropologia, além de permitir que os
pedagogos tracem uma metodologia de práticas baseada em suas
descobertas.
“Não existe estrutura sem gênese, nem gênese sem estrutura” (Piaget).
Para Piaget a estrutura de maturação do indivíduo sofre um processo
genético e a gênese depende de uma estrutura de maturação. Sua teoria
nos mostra que o indivíduo só recebe um determinado conhecimento se
estiver preparado para recebê-lo. Ou seja, se puder agir sobre o objeto
de conhecimento para inseri-lo num sistema de relações. Não existe um
novo conhecimento sem que o organismo tenha já um conhecimento anterior
para poder assimilá-lo e transformá-lo.
Isto implica a interação dos dois polos da atividade inteligente:
assimilação e acomodação. É assimilação na medida em que incorpora a
seus quadros todo o dado da experiência ou estruturação por incorporação
da realidade exterior a formas devidas à atividade do sujeito (Piaget,
1982). É acomodação na medida em que a estrutura se modifica em função
do meio, de suas variações. A adaptação intelectual constitui-se então
em um “equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e uma acomodação complementar”
(Piaget, 1982). Piaget situa, segundo Dolle, o problema epistemológico,
o do conhecimento, ao nível de uma interação entre o sujeito e o
objeto. E “essa
dialética resolve todos os conflitos nascidos das teorias,
associacionistas, empiristas, genéticas sem estrutura, estruturalistas
sem gênese, etc. … e permite seguir fases sucessivas da construção
progressiva do conhecimento” (1974: 52).
O desenvolvimento do indivíduo inicia-se no período intrauterino e vai
até aos 15 ou 16 anos. Piaget diz que a embriologia humana evolui também
após o nascimento, criando estruturas cada vez mais complexas. A
construção da inteligência dá-se, portanto em etapas sucessivas, com
complexidades crescentes, encadeadas umas às outras. A isto Piaget
chamou de “construtivismo sequencial”.
A seguir os períodos em que se dá este desenvolvimento motor, verbal e mental.
PERÍODO SENSÓRIO-MOTOR
Do nascimento aos 2 anos, aproximadamente.
A ausência da função semiótica é a principal característica deste
período. A inteligência trabalha através das percepções (simbólico) e
das ações (motor) _através dos deslocamentos do próprio corpo. É uma
inteligência iminentemente prática. Sua linguagem vai da ecolalia
(repetição de sílabas) à palavra-frase (“água” para dizer que quer beber
água) já que não representa mentalmente o objeto e as ações. Sua
conduta social, neste período, é de isolamento e indiferenciação (o
mundo é ele).
PERÍODO SIMBÓLICO
Dos 2 anos aos 4 anos, aproximadamente.
Neste período surge a função semiótica que permite o surgimento da
linguagem, do desenho, da imitação, da dramatização, etc.. Podendo criar
imagens mentais na ausência do objeto ou da ação é o período da
fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico. Com a capacidade de formar
imagens mentais pode transformar o objeto numa satisfação de seu prazer
(uma caixa de fósforo em carrinho, por exemplo). É também o período em
que o indivíduo “dá alma” (animismo) aos objetos (“o carro do papai foi ‘dormir’ na garagem“).
A linguagem está a nível de monólogo coletivo, ou seja, todos falam ao
mesmo tempo sem que respondam as argumentações dos outros. Duas crianças
“conversando” dizem frases que não têm relação com a frase que o outro
está dizendo. Sua socialização é vivida de forma isolada, mas dentro do
coletivo. Não há liderança e os pares são constantemente trocados.
Existem outras características do pensamento simbólico que não estão sendo mencionadas aqui, uma vez que a proposta é de sintetizar as idéias de Jean Piaget, como por exemplo o nominalismo (dar nomes às coisas das quais não sabe o nome ainda), superdeterminação (“teimosia”), egocentrismo (tudo é “meu”), etc.
Existem outras características do pensamento simbólico que não estão sendo mencionadas aqui, uma vez que a proposta é de sintetizar as idéias de Jean Piaget, como por exemplo o nominalismo (dar nomes às coisas das quais não sabe o nome ainda), superdeterminação (“teimosia”), egocentrismo (tudo é “meu”), etc.
PERÍODO INTUITIVO
Dos 4 anos aos 7 anos, aproximadamente.
Neste período já existe um desejo de explicação dos fenômenos. É a “idade dos porquês”,
pois o individuo pergunta o tempo todo. Distingue a fantasia do real,
podendo dramatizar a fantasia sem que acredite nela. Seu pensamento
continua centrado no seu próprio ponto de vista. Já é capaz de organizar
coleções e conjuntos sem, no entanto incluir conjuntos menores em
conjuntos maiores (rosas no conjunto de flores, por exemplo). Quanto à
linguagem não mantém uma conversação longa, mas já é capaz de adaptar
sua resposta às palavras do companheiro.
Os Períodos Simbólico e Intuitivo são também comumente apresentados como Período Pré-Operatório.
PERÍODO OPERATÓRIO CONCRETO
Dos 7 anos aos 11 anos, aproximadamente.
É o período em que o indivíduo consolida as conservações de número,
substância, volume e peso. Já é capaz de ordenar elementos por seu
tamanho (grandeza), incluindo conjuntos, organizando então o mundo de
forma lógica ou operatória. Sua organização social é a de bando, podendo
participar de grupos maiores, chefiando e admitindo a chefia. Já podem
compreender regras, sendo fiéis a ela, e estabelecer compromissos. A
conversação torna-se possível (já é uma linguagem socializada), sem que,
no entanto possam discutir diferentes pontos de vista para que cheguem a
uma conclusão comum.
PERÍODO OPERATÓRIO ABSTRATO
Dos 11 anos em diante.
É o ápice do desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de
pensamento hipotético-dedutivo ou lógico-matemático. É quando o
indivíduo está apto para calcular uma probabilidade, libertando-se do
concreto em proveito de interesses orientados para o futuro. É,
finalmente, a “abertura para todos os possíveis”.
A partir desta estrutura de pensamento é possível a dialética, que
permite que a linguagem se dê em nível de discussão para se chegar a uma
conclusão. Sua organização grupal pode estabelecer relações de
cooperação e reciprocidade.
A importância de se definir os períodos de desenvolvimento da
inteligência reside no fato de que, em cada um, o indivíduo adquire
novos conhecimentos ou estratégias de sobrevivência, de compreensão e
interpretação da realidade. A compreensão deste processo é fundamental
para que os professores possam também compreender com quem estão
trabalhando.
A obra de Jean Piaget não oferece aos educadores uma didática específica
sobre como desenvolver a inteligência do aluno ou da criança. Ele nos
mostra que cada fase de desenvolvimento apresenta características e
possibilidades de crescimento da maturação ou de aquisições. O
conhecimento destas possibilidades faz com que os professores possam
oferecer estímulos adequados a um maior desenvolvimento do indivíduo.
“Aceitar
o ponto de vista de Piaget, portanto, provocará turbulenta revolução no
processo escolar (o professor transforma-se numa espécia de ‘técnico do time de futebol’,
perdendo seu ar de ator no palco). (…) Quem quiser segui-lo tem de
modificar, fundamentalmente, comportamentos consagrados, milenarmente
(aliás, é assim que age a ciência e a pedagogia começa a tornar-se uma
arte apoiada, estritamente, nas ciências biológicas, psicológicas e
sociológicas). Onde houver um professor ‘ensinando’… aí não está havendo uma escola piagetiana!” (Lima, 1980: 131).
O lema “o professor não ensina, ajuda o aluno a aprender”,
do Método Psicogenético, criado por Lauro de Oliveira Lima, tem suas
bases nestas teorias epistemológicas de Jean Piaget. Existem outras
escolas, espalhadas pelo Brasil, que também procuram criar metodologias
específicas embasadas nas teorias de Piaget. Estas iniciativas passam
tanto pelo campo do ensino particular como pelo público. Alguns governos
municipais, inclusive, já tentam adotá-las como preceito
político-legal.
Todavia, ainda se desconhece as teorias de Piaget no Brasil. Pode-se
afirmar que ainda é limitado o número daqueles que buscam conhecer
melhor a Epistemologia Genética e tentam aplicá-la na sua vida
profissional, na sua prática pedagógica. Nem mesmo as Faculdades de
Educação, de uma forma geral, preocupam-se em aprofundar estudo nestas
teorias. Quando muito oferecem os períodos de desenvolvimento, sem
permitir um maior entendimento por parte dos alunos.
Artigo escrito por “Professor Marcos L Souza" – Pedagogo – Psicopedagogo – Educador musical – Historiador.
Artigo escrito por “Professor Marcos L Souza" – Pedagogo – Psicopedagogo – Educador musical – Historiador.
Referências Bibliográficas:
CHIABAI, Isa Maria. A influência do meio rural no processo de cognição de crianças da pré-escola: uma
interpretação fundamentada na teoria do conhecimento de Jean Piaget.
São Paulo, 1990. Tese (Doutorado), Instituto de Psicologia, USP. 165 p.
LIMA, Lauro de Oliveira. Piaget para principiantes. 2. ed. São Paulo: Summus, 1980. 284 p.
PIAGET, Jean. O nascimento da inteligência na criança. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. 389 p.
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